Dia Nacional da Consciência Negra é
uma data de celebração e de conscientização sobre
a força, a resistência e o sofrimento que a população negra viveu no Brasil
desde a colonização.
Durante o período
colonial, aproximadamente 4,6 milhões de africanos foram
trazidos para o Brasil para servirem na condição de escravos, trabalhando
primeiramente em lavouras de cana-de-açúcar e
no serviço doméstico, e posteriormente na mineração e
em outras lavouras.
A condição de vida dos africanos e dos negros escravizados
nascidos no Brasil era extremamente precária. Além de serem submetidos ao
trabalho forçado, os escravos eram submetidos a um tratamento degradante e
humilhante, não tendo direito a tratamento médico, à educação e
a qualquer tipo de assistência social.Como
surgiu o Dia da Consciência Negra?
Além do tratamento degradante conferido à população negra
escravizada no Brasil entre 1536 e 1888 (este último ano data a libertação dos
escravos via Lei Áurea), as heranças da escravidão permaneceram.
Quando os escravos foram libertos, em 13 de
maio de 1888, por meio da promulgação da Lei Áurea, após intensa
luta de ativistas abolicionistas do período imperial do Brasil, como o
jornalista e advogado negro Luís Gama, a população negra permaneceu sem
qualquer tipo de assistência. Muitos escravos recém libertos permaneceram nas fazendas onde
eram cativos por não terem para onde ir. A grande maioria dessa população era
analfabeta e não sabia outro ofício, além do trabalho intenso e pesado das
lavouras. No Rio de Janeiro, muitos escravos foram procurar as regiões difíceis
de erguer construções na cidade (os morros) para construírem suas moradias,
configurando as primeiras favelas. A situação deixada para a população
negra no Brasil foi extremamente precária.
Marginalizada, sem assistência e com uma vida precária, a
população negra no Brasil continuou a enfrentar muita dificuldade.
Os negros eram discriminados socialmente, não tinham acesso aos mesmos direitos
que os brancos e foram perseguidos. Diante dessa realidade, muitas comunidades
negras (algumas inclusive remanescentes de quilombos),
além de organizações sociais formadas por pessoas negras nas cidades, passaram
a lutar pela igualdade racial e pela inserção da população negra na comunidade
sem restrição de direitos.
Na década de 1970, ativistas ligados a um grupo de quilombolas
situado no Rio Grande do Sul passaram a reivindicar a celebração do Dia da
Consciência Negra no Brasil na data de 20 de novembro. Em
1978, surgiu o Movimento Negro Unificado no País, que passou a promover
uma série de ações para pensar a consciência negra e lutar contra o racismo no Brasil. Graças
ao movimento, o Dia da Consciência Negra tornou-se uma data lembrada todo ano
como representativa da luta da população negra.
Saiba mais: Limitações
da Lei Áurea: as consequências geradas aos negros libertos
Por que
escolheram o dia 20 de novembro?
A escolha do dia 20 de novembro não foi aleatória, foi feita por
ser a data
de morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1695.
Zumbi foi o maior líder do Quilombo dos Palmares.
Os quilombos eram comunidades formadas por negros escravizados
que fugiam da tirania de seus senhores e escondiam-se em lugares de difícil
acesso no meio das matas. O Quilombo
dos Palmares foi o maior e mais duradouro dos quilombos
registrados pelos estudos historiográficos. Estima-se que a sua formação tenha
durado cerca de 100 anos e abrigado entre 20 mil e 30 mil habitantes. A
localização territorial do Quilombo dos Palmares era na região da Serra da
Barriga, atual estado de Alagoas.
Zumbi foi um grande líder
e representante da resistência negra em sua época. Fontes antigas, que hoje
são questionadas pela historiografia, apontam que ele nasceu em Palmares, porém
foi capturado e tomado como escravo aos sete anos de idade. Nessa época, Zumbi
teria ficado sob os cuidados de um padre jesuíta, que
o batizou na tradição católica e o alfabetizou em português e latim. Aos quinze
anos de idade, Zumbi teria fugido para o Quilombo dos Palmares e, depois,
destacado-se como uma liderança por lá.
Não é possível atestar a veracidade desses dados porque, além de
não terem confirmações históricas, é possível que eles tenham surgido em um
momento específico, no século XIX, em que a imagem de Zumbi foi construída como
um símbolo
heróico para a justa defesa da abolição da escravatura.
Havia, portanto, um uso político da imagem de Zumbi e uma construção heróica
com uma finalidade específica, mas que pode não condizer com a realidade dos
fatos sobre a vida do líder de Palmares.
Foram muitas as batalhas que os quilombolas de Palmares lutaram
contra o exército português no Brasil e contra expedições promovidas por
capitães e por fazendeiros colonos. Zumbi despontou-se como uma grande
liderança justamente por ser um grande estrategista militar e
representante de forte resistência contra os colonos
escravocratas.
Embora pouco conhecida, outra figura importante dentro do
Quilombo de Palmares foi Dandara de Palmares.
Apesar de poucas fontes historiográficas sobre a figura de Dandara, sabe-se que
ela foi uma
grande guerreira resistente. Fontes historiográficas apontam
que ela foi esposa de Zumbi e teve com o líder quilombola três filhos. A morte
de Dandara ocorreu em 1694, quando foi capturada. Para fugir da escravidão, a
guerreira de Palmares cometeu suicídio jogando-se de um desfiladeiro.
Em 1694, tropas organizadas pela expedição do bandeirante Domingos Jorge
Velho conseguiram êxito, capturando vários quilombolas. Na
expedição, os bandeirantes utilizaram inclusive artilharia pesada, como canhões
de guerra. Dessa maneira, a bandeira capturou o quilombola Antonio Soares e
prometeu-o a liberdade em troca da revelação do esconderijo do líder Zumbi.
Antonio Soares cedeu e traiu o líder de Palmares, revelando o
seu esconderijo. Em novembro de 1695, as tropas de
Domingos Jorge Velho capturaram Zumbi e mataram-no,
degolando a sua cabeça e expondo-a em praça pública. Nesse evento, os
bandeirantes dominaram os quilombolas, desfazendo o quilombo. Os habitantes que
não foram mortos ou capturados tiveram que fugir do local.
Assim, o dia 20 de novembro foi escolhido para representar o Dia
Nacional da Consciência Negra por conta da importância da figura de Zumbi dos
Palmares na luta e resistência contra a escravidão de povos de
origem africana. Fonte - mundoeducacao
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