Os desafios do uso de vídeos em sala de aula
Filmes são poderosos apoios para o professor, mas a eficácia do recurso depende de atividades planejadas que o complementem
· Jônatas Dias Lima
Renaldo Franque, gerente de sistemas pedagógicos do Expoente: colégio tem acervo com dezenas de trechos de filmes e sugestões de atividades pós-exibição |
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Com ajuda dos leitores que enviaram e-mails e postagens nas redes sociais, a Gazeta do Povo produziu uma lista com os 10 filmes mais lembrados por quem os assistiu na escola. Confira:
1. Ilha das Flores
O documentário em curta-metragem do cineasta brasileiro Jorge Furtado, produzido em 1989, foi o mais citado dos filmes assistidos em sala de aula. Cheio de ironia, e com uma linguagem que lembra a de uma enciclopédia, a obra enfoca a desigualdade social produzida pelas relações econômicas.
2. Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
3. Tempos Modernos (1936)
4. O Nome da Rosa (1980)
5. A Corrente do Bem (2000)
6. Patch Adams - O Amor é Contagioso (1998)
7. A Missão ( 1986)
8. Escritores da Liberdade (2007)
9. Ao Mestre com Carinho (1967)
10. Super Size Me (2004)
Dicas
Confira algumas sugestões feitas pelo professor José Manuel Moran no estudo O Vídeo na Sala de Aula:
- Vídeo como sensibilização: É aquele que introduz um novo assunto para despertar curiosidade. Ele motiva pesquisas que podem ser pedidas para aprofundar o tema.
- Vídeo como ilustração: Ajuda a mostrar o que se fala em aula, apresentando cenários desconhecidos dos alunos. Por exemplo, um vídeo que exemplifica como eram os romanos na época de Julio César.
- Vídeo como simulação: Pode simular experiências de Química que seriam perigosas em laboratório ou exigiriam muito tempo e recursos. Um vídeo pode mostrar, por exemplo, o crescimento acelerado de uma árvore (da semente à maturidade) em poucos segundos.
- Vídeo como conteúdo de ensino: Apresenta um tema específico e orienta a sua interpretação, com dados e explicações, como documentários.
Em tempos de YouTube, o uso de vídeos em sala de aula não chega a ser recebido pelos alunos com a mesma expectativa que provocava em turmas das décadas passadas. A abundância de opções à disposição dos estudantes, pelo contrário, exige um apurado senso crítico do professor, que deve pensar não só na qualidade das imagens, mas se o vídeo escolhido é mesmo relevante para a aprendizagem ou se oferece mero entretenimento.
Situação comum na rede pública de ensino, quando um professor falta, a opção de levar os estudantes para a sala de vídeo é com frequência uma das primeiras a ser levantada. Em parte isso se explica pela disposição dos alunos que, mesmo acostumados com os vídeos, veem o momento do filme como algo diferente na rotina escolar, e com frequência dedicam até mais atenção ao que se passa na tela do que às aulas comuns.
No entanto, uma atividade que podia ser aproveitada para trabalhar habilidades importantes, acaba sendo desperdiçada quando a prioridade torna-se apenas manter a turma sob controle. É o que diz o professor José Manuel Moran, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e diretor de Educação a Distância na Universidade Anhanguera.
Moran é autor de um estudo intitulado O Vídeo na Sala de Aula, no qual elenca uma série de práticas positivas e negativas de professores que usam filmes no processo de aprendizagem. “O aluno não é bobo. Ele percebe quando você passa um filme só para ocupar o tempo ocioso, e acaba associando o vídeo a não ter aula”, diz.
Para Moran, vídeos são poderosos apoios de aprendizagem, mesmo que os alunos já tenham assistido ao conteúdo em suas casas ou na internet, porque o contexto escolar favorece a expectativa de um debate ou a tarefa de produzir uma resenha. Além disso, há temas em que recursos audiovisuais permitem a ativação de sentidos que as explicações orais tradicionais não fornecem. “Para mostrar o impacto de um tsunami ou de um terremoto, por mais que você descreva, a explicação não é tão eficaz quanto uma filmagem”, exemplifica o professor.
Tempo
A questão do tempo gasto na exibição de filmes é outro fator que preocupa na hora de optar pelo recurso. Como a maior parte das produções cinematográficas duram de 90 a 120 minutos, passar um filme na íntegra significa ocupar duas aulas ou mais. Para solucionar o problema sem abrir mão dos vídeos, o Colégio Expoente, de Curitiba, desenvolveu um sistema no qual estão armazenadas dezenas de trechos de filmes, que duram entre 10 e 20 minutos.
Cada vídeo é editado por uma equipe técnica, a partir de orientações pedagógicas que definem quais trechos do filme serão usados para trabalhar determinados assuntos. O sistema ainda inclui sugestões de atividades a serem realizadas logo após a exibição. “Não dá pra colocar o filme inteiro, então nós o usamos como estímulo e em seguida aplicamos as atividades”, explica o gerente de sistemas pedagógicos, Renaldo Franque. “O sistema custou caro, mas é mais útil do que se imagina”, avalia.
Respeito à liberdade de pensamento
Outro uso comum de filmes em sala de aula que não contribui para a aprendizagem é a exposição de vídeos com o objetivo de enfatizar e expor opiniões pessoais do professor. Segundo a psicóloga e professora da pós-graduação do Centro Universitário FAE Nelcy Finck, quando um filme não taz conteúdos muito relevantes para a disciplina e apoia explicitamente uma posição política, religiosa ou de comportamento, a prática pode desrespeitar a liberdade de pensamento dos alunos.
“O professor pode até apresentar suas ideias, desde que promova um debate equilibrado em seguida”, diz. Para Nelcy, a tentativa de impor ideias por meio de conteúdos audiovisuais não é apenas desrespeitosa como ineficaz. “Raramente isso tem algum efeito sobre os alunos. Para mudar a forma de alguém pensar, a credibilidade pessoal de quem fala conta muito mais”, explica. A psicóloga explica que crianças nos primeiros anos do ensino fundamental são mais suscetíveis a esse tipo de influência, mas em adolescentes e jovens, quando não há abertura para o debate após o filme ou este é conduzido de forma parcial, o resultado costuma ser o oposto do esperado. “Quando você não respeita a liberdade dos jovens, o desconforto com o tema o fará sair de sala pior do que entrou”, conclui.
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