Como ressaltado por Paulo Freire, a educação é transformadora, assim sendo, a mesma não pode ser neutra, já que esta transformação implica em mudanças.
Para Freire, a neutralidade é uma maneira cômoda, hipócrita com o intuito de esconder uma opção ou até mesmo medo de acusar a injustiça. É o mesmo que lavar as mãos em face da opressão reforçando assim o poder do opressor.
As falas acima são corroboradas por Desmond Tutu quando elucida que não há lugar para neutralidade. Segundo Tutu, quando você se diz neutro em relação a uma situação de injustiça e de opressão, automaticamente você está apoiando o status quo injusto.
Demo em seu livro Saber Pensar, publicado pela Cortez em 2000, salienta que países de terceiro mundo apenas se mordenizam, não se desenvolvem uma vez que ao lado do conhecimento, aparece, na contraluz, a produção de ignorância sistemática, em particular pela pregação da neutralidade nunca neutra.Assim sendo, a política educacional prega uma neutralidade com o intuito de calar as escolas e seus profissionais quanto a manipulação do sistema tendo como cerne o enraizamento da ignorância, da falta de discernimento, da opressão e da miséria.
Dito isso, pode-se perceber que a miséria é a pedra angular que mantém a elite no poder e para Paulo Freire "os opressores, falsamente generosos, têm necessidade de permanência da injustiça, para que a sua generosidade continue.
Pétry em seu livro Poder e Manipulação: como entender o mundo em 20 lições extraídas de O Príncipe de Maquiavel, publicado pela Faro Editorial em 2016, esclarece que "ao contrário do que muitos pensam, assumir uma posição claramente em favor de alguém é sempre melhor do que manter-se neutro", e em nossa atual conjuntura política, a neutralidade reflete a complacência com a miséria, corrupção, fome, desemprego, feminicidio, misoginia, racismo, preconceito, indiferença, intolerância, ódio, demofobia, mentiras dentre outras insanidades.
A neutralidade implica na anulação do sujeito, ou seja, a educação não surtirá nenhum efeito neste, isto é, ele continuará sendo um ser objeto, manipulado por um sistema excludente e elitista.
Paulo Freire deixa claro que a neutralidade da educação é uma visão ingênua, sendo assim, em sua obra Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, publicado pela Paz e Terra em 1999, ele elucida que "Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, minha posição não pode ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo”.
As falas acima são corroboradas no livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019 no qual eu pontuo que a educação nunca é neutra, já que a mesma é uma ação voluntária.
Dito isso, falar em neutralidade na educação é um mito, uma falácia na qual os manipuladores elitistas discursam para que a educação sejam uma ação estéril, aumentando em concomitância a massa de manobra.
Por Wolmer
Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e
Docente – www.wolmer.pro.br
http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/educacao-e-o-mito-da-neutralidade