Texto da
Professora Caliana
Zellmann a partir do livro:
"No chão da escola: por uma infância que voa",
de Marcelo Cunha Bueno
Chão, escola, infância, voa… palavras que se destacaram
diante dos olhos. Foi uma leitura muito significativa. Tão significativa que
resolvi compartilhar minhas percepções através desta escrita.
Quando se começa ou deveria começar a voar? O que de tão
singular marca os voos de cada criança? Quais voos valem a pena? O que aprender
com cada voo? A escola é um lugar de voos?
Algumas crianças/adolescentes voam com mais coragem, outras mais tímidas em
alçar voo. Voos tranquilos, desafiadores, prazerosos, frios, quentes. Voos que
ficam, voos que vão.
É mais ou menos assim que enxergo o começo. E conhecemos esse
começo como infância. É lá que se aprende a querer voar. Infância é voo, mas
também é chão. Compreendi de maneira mais significativa que infância é afeto, é
miudeza. E é isso mesmo. Ou melhor, é isso e muito mais. É viver de maneira
bonita, é começar a aprender a ser gente, é se aventurar, é escutar sim e não,
é também conhecer “quem manda”, é entender limites. É aprender que existe o
tempo do relógio, mas também todos os outros tempos.
E como colocar isso tudo dentro da escola, já que a escola é um
espaço que fica dentro do espaço da infância/adolescência?!
Em um dos primeiros capítulos, chamado Porque é bom entrar na escola,
o autor fala de um espaço de fazer sentido, de um espaço que muda a vida de
todos envolvidos, que transforma. E eu, como professora, entendo que a escola é
um território fértil para se fazer memória.
Todos temos lembranças dos tempos de escola. Dos conteúdos, dos
professores, das relações que, por vezes, são conservadas ao longo do tempo.
“Esse é meu amigo desde o tempo de escola…” Tão bacana!
Escola também é espaço das diferenças. É espaço de aprendizado
do respeito, da compreensão, da paciência, do aprender a escutar, do aprender a
ser mais empático com o outro. Algo que não é tão fácil assim, mas que depende
muito desse espaço que a escola se torna (ou deveria) na vida das pessoas.
As relações com o outro e consigo mesmo vão se estabelecendo no
dia a dia. E é também na escola, no convívio com a diversidade, que podemos
buscar melhores maneiras de ser e de se estar com o outro. É na construção
coletiva que se fazem pessoas. Escola e famílias se fazem melhores.
No livro, o autor traz uma reflexão importante acerca do papel
de quem, para ele, é protagonista da escola, desse lugar tão rico das
diferenças.
E como ficam os professores nessa história? Como se sentem as
figuras mais importantes desse processo? Tudo vale mais do que nós, educadores.
Os produtos, as marcas, as gôndolas, os apostilados, as metodologias, as
atividades extras. Desvalorizados e esvaziados em sua essência.
Despotencializados da autoria de seu trabalho. Desautorizados de serem sujeitos
da ação educativa. Isso está errado. Somos nós, os educadores, que fazemos a
escola funcionar. Somos nós os que colocamos em prática os currículos das
escolas. Somos nós que deveríamos ser os autores das boas escolas. Não é?
(BUENO, 2018, p. 22.)
Uma reflexão forte, mas que fica mais sútil se pensarmos que há
muitos professores que já fazem a diferença na escola e nessa infância que voa
(ou deveria). Falo com a certeza de que, diariamente, há professores que
conseguem fazer – e isso não é tarefa simples, é algo a ser construído por cada
um – as crianças voarem.
Não quero romantizar o papel do professor. O que estou trazendo
aqui é algo que vai além disso, pois é importante lembrar de seus voos e
perceber o quanto podíamos ter voado mais, pois agora, quem já fez seus voos é
que ensina e faz voar.
Assim pensando, me pergunto: o quanto de sutileza tem no nosso
olhar na sala de aula para esses aprendizes de voo? O que podemos fazer para
que sintam desejo de voar? E a qualidade desse voo, como será?
Para mim, o fazer voar é recheado de afeto. E nos últimos
tempos, tenho pensando muito no quanto a escola e a infância são lugares de
dedicação a isso.
É incrível pensar que em cada voo pode haver uma grande quantidade
de afeto. E quando falo em afeto, falo no sentido mais peculiar da palavra.
Como é importante afetar as crianças e sentir-se afetado por elas. Como é bom
construir um olhar generoso diante daqueles que crescem diante de nós. Mas como
é bom também construir um olhar generoso pela profissão que faz o outro voar.
Desse jeito, generoso, mais do que nunca, tenho me sentido uma
passarinha da infância. É e tão bom voar!
Foi realizada a leitura, discussão e os professores responderam
as seguintes questões: